Dois lados para a mesma história
Tinham-no apresentado em duas noites reservadas a fãs e convidados. Transformaram-no em edição especial, em CD e DVD. E levaram-no para a estrada para o revelarem em poucas actuações. Fácil de Entender é o mais recente projecto dos The Gift, gravação transformada em actuação ao vivo conceptual, dividida em dois momentos diferentes, tal como em disco. E na noite de sábado apresentou-se em Lisboa, no CCB, no primeiro de dois concertos que terminaram a digressão com o mesmo nome. A prova de que o que vimos registado em disco tem a sua origem e destino último no formato "ao vivo", no palco, com subtis alterações.
É o espectáculo ideal para os fãs dos The Gift. Uma colecção generosa de canções, entre sucessos e escolhas menos habituais, projectadas para uma sala confortável, onde os diferentes ambientes se sentem em casa, em mais de duas horas de música com direito a intervalo. Em concerto fica provado que os refrões estão decorados, que as personagens são reconhecidas, que a resposta é positiva. Grita-se à chegada dos músicos ao palco, durante as canções, pelo regresso dos músicos para desejados encores e no fim da actuação, como caloroso agradecimento. Famílias, e casais, e jovens e menos jovens... Um CCB esgotado para ver e ouvir Fácil de Entender.
A canção com o mesmo título é já sucesso. Se era faixa escondida em AM-FM, parece agora transformada no novo centro das atenções, despertando curiosidade nuns The Gift em português. E Fácil de Entender, o espectáculo, surge como o conhecemos em DVD. Duas faces distintas, no aspecto cénico e nas canções. De um lado, a cara intimista, sem nunca esquecer imagem e som cuidados e adequados à dimensão desejada pela banda. Do outro, pop- -rock com outra vitamina quando assim é necessário. Em ambas as situações, convidados presentes para que nenhum pormenor faltasse.
O alinhamento esteve próximo do registado em disco, com algumas surpresas pelo meio. Dois temas novos subiram ao palco, Nice and Sweet e 645, com construções em tudo semelhantes ao que já lhes conhecíamos de outros momentos, e uma versão de Índios, tema original dos brasileiros Titãs. E houve ainda espaço para uma interpretação de Absolute Beginners, de David Bowie.
Pelo meio, o revisitar de repertório gravado em disco, o encerrar de uma digressão em jeito de fecho de capítulo e de celebração, com uma actuação num CCB que há muito esperavam - os próprios músicos fizeram questão de o confessar. Uma noite com tudo no devido lugar, das canções à interpretação, sem surpreender, mas com o aprumo a que a banda já habituou quem os visita.
Tiago Pereira
in Diário de Notícias -11/12/2006
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