Vodafone Soundclash no Atlântico: Brava dança
Último grande evento do Verão 2007 ou primeira mostra criativa da nova temporada? Festival, concerto repartido ou montra publicitária com música acoplada? Muitas questões de maior ou menos relevância foram levantadas com este Vodafone Soundclash, ficando no ar uma certeza: esteve-se bem no Pavilhão Atlântico na passada sexta-feira.
A curiosidade maior deste Vodafone Soundclash residia nos «confrontos» entre bandas que se iriam verificar. A estrutura consistia em dois palcos diametralmente opostos mas que se uniam a meio do Pavilhão Atlântico, acabando esta ligação por ser a ponte não só entre palcos mas também entre os concertos do evento.
A noite iniciou cedo, com as escolhas em modo DJ do radialista Henrique Amaro. Escolhas lusas, obviamente: não só pelo trajecto do profissional da Antena 3 mas também, quiçá sobretudo, por todo um conceito da marca Vodafone de aposta em mostrar o que se faz musicalmente em terras lusas.
O rapper Boss AC foi o primeiro real agitador de massas. Com ele veio Gutto, num tema, e uma mão cheia de canções que agradaram às sensivelmente cinco mil pessoas presentes no espaço. Se dantes rimava contra a maré, na verdade os tempos presentes são de ondulação favorável para as manobras de AC. O didgeridoo foi o instrumento que ligou os Blasted Mechanism ao rapper, tendo os autores do recente «Sound in Light» dado, como seria de esperar, um concerto plenamente satisfatório. Se, por um lado, a capacidade de surpreender parece cada vez menor, não deixa de ser menos exacta a certeza de uma cada vez maior sofisticação e segurança na táctica de Karkov e comparsas. Ou como a defesa é, por vezes, o melhor ataque.
Seguiram-se os The Gift, no seu melhor concerto por terras lisboetas em algum tempo. Tocaram «In Repeat», tema incluído na compilação «Lisboa», e foi essa a maior - e melhor - novidade do seu concerto. Tema longo, em crescendo, com muito mais poder de fogo nas suas entrelinhas que um primeiro vislumbre não descortina convenientemente. Convocaram, no final, Rui Reininho para cantar com Sónia Tavares o sucesso «Fácil de Entender», gesto retribuído pela vocalista dos The Gift no arranque do espectáculo dos GNR.
«Quero que vá tudo pró Inferno» nem sequer é um original dos GNR mas na verdade parece ter relançado a banda em termos mediáticos e de airplay radiofónico. Nas camadas jovens especialmente (atente-se que aproximadamente 80% da massa do Vodafone Soundclash andava nas casas dos sub-21) a versão de Roberto Carlos pode muito bem ser a porta de entrada num legado não raras vezes de imenso valor. A pose de Rui Reininho continua lá, e a experiência e sabedoria dos GNR fez o resto. Bom concerto.
Término na festa Sounclash com um set da dupla Dezperados, aqui em modo plenamente nacional. Foram o final de festa acertado para os resistentes, tendo oferecido aos presentes um momento raro no trajecto da dupla, uma noite de gira-disquismo feita inteiramente de música lusa. Convenceram e seria no mínimo interessante a repetição da experiência.
Nota final de apreço para a organização: não é qualquer zona VIP que apresenta um menu tão recheado com iguarias como leitão ou o cada vez mais in sushi. Não só por isso mas também, que o Vodafone Soundclash se repita mais vezes.
Pedro Figueiredo - in diariodigital -09-09-2007
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