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12.14.2007

The Gift :: Imprensa

“Sem os Gift não sei se continuaria a cantar”, Sónia Tavares

Dez anos depois de terem começado, os The Gift preparam-se agora para conquistar de vez o mercado internacional. Espanha é a primeira aposta, mal termine a digressão portuguesa no final do ano. Sónia Tavares aceitou o convite e esteve na nossa redacção.

Rosa10 – Os The Gift estão neste momento empenhados em conquistar o mercado Espanhol.
Sónia Tavares – Sim, decidimos alargar definitivamente os horizontes e apostar numa digressão em Espanha, depois de terminarmos esta, em Portugal, no final do ano.

Porquê Espanha?
Porque está mais perto, porque até podemos fazer os concertos e voltar logo de seguida para casa. Para além disso, o mercado espanhol pode abrir portas para outros mercados, como os da América do Sul e do Brasil, onde também já andámos.

Já deram muitos concertos lá fora. Há agora uma nova estratégia?
Estamos mais crescidos e sabemos melhor como as coisas funcionam. E já sabemos o que não queremos. Aliámo-nos também a uma produtora, a EMI, para nos ajudar na promoção dos nossos projectos no estrangeiro. Acho que era este apoio que nos faltava.

Desde o início que sentiram que tinham potencial para uma carreira internacional?
Sim, desde sempre pensámos que a nossa música poderia conquistar público em outros países e que eles poderiam apreciá-la da mesma forma que os portugueses fazem. Com base nesse pensamento, realizámos uma série de digressões, nomeadamente nos Estados Unidos e em Espanha. Só que chegámos à conclusão que marcar concertos e mostramo-nos, é fácil, o difícil é fazer com que as pessoas fixem o nome The Gift e escolham os nossos discos nas prateleiras em que existem milhares de discos pop.

É essa a grande dificuldade das bandas portuguesas…
Em França, quando digo que sou portuguesa, torcem logo o nariz. Se fossemos americanos ou ingleses era muito mais fácil entrar em qualquer mercado. Há que encarar as coisas de forma natural, afinal a vida não foi feita para ser fácil e é por isso que continuamos a desafiar as nossas próprias leis enquanto pessoas com capacidade de trabalhar.

Como correu a digressão nacional?
Correu muito bem. Estamos com uma digressão muito bem organizada, os concertos têm estado lotados, estamos num grande momento.

Fizeram há pouco a primeira parte do concerto dos Pet Shop Boys, em Espanha. Sei que é uma fã incondicional…
Sim, eles são uma das minhas bandas de eleição de sempre. Quando eles vieram a Portugal não tive oportunidade de os ver, mas felizmente tivemos a oportunidade de sermos convidados para fazer a primeira parte do concerto deles no festival “Green Space”.

Como correu?
Foi um espectáculo maravilhoso. Eles receberam-nos muito bem e foram muito simpáticos. Assistiram a uma parte do nosso concerto e acho que gostaram. Esperámos até ao final do concerto para lhes pedir um autógrafo.

Fez-lhes alguma pergunta em especial?
Não, simplesmente disse-lhes que os adorava e que a primeira cassete em inglês que ouvi quando era pequena, foi a deles.



“Não vendemos mais discos nem fizemos mais concertos por causa do prémio da MTV”

Quando ganharam o prémio MTV para melhor banda portuguesa, em 2005, acharam que isso iria alterar a vossa vida?
Não, porque nós somos pessoas informadas e com os pés bem assentes na terra e sabemos perfeitamente que este prémio é votado por pessoas, o que só veio confirmar para nós, que os nossos fãs estão sempre prontos a nos apoiar quando precisamos deles. Foram eles que nos elegeram e mais ninguém.

Mas não aumentou o número de vendas?
Não, vamos ser realistas, não vendemos mais discos e nem fizemos mais concertos por isso. Foi um momento único, porque foi em Lisboa. Recebemos o prémio no nosso país, teve alguma visibilidade, mas teria sido melhor se tivéssemos actuado.

“Habituámo-nos a escrever em inglês, mas isso não significa que não gostamos de cantar em português, ao contrário daquilo que as pessoas pensam”.

Porque optaram por cantar sempre em inglês?
Quando iniciámos a banda, tínhamos entre os 15 e 16 anos, fomos influenciados pela música pop inglesa e os grupos que existiam e com os quais nos identificávamos cantavam todos em inglês, por isso habituámo-nos a escrever em inglês. Mas, isso não significa que não gostamos de cantar em português, ao contrário daquilo que as pessoas pensam.

Até porque têm entrado em vários projectos em português…
Pois, cantámos com o Rodrigo Leão e com os GNR e já fizemos alguns trabalhos para teatro, em que as letras foram sempre em português. Estas experiências foram sempre óptimas, o que significa que cantar em português não é algo que nos afronte.

Como surgiu “Fácil de entender”?
Esta música surgiu porque a nossa criatividade e inspiração o permitiu na altura. Quando produzimos não nos prendemos e regemos por regras, as coisas surgem naturalmente. Quando temos uma música com uma boa letra e melodia, por que não fazê-la, e foi o caso de “Fácil de Entender”.

Já estão a preparar o próximo álbum?
Ainda não. Temos algumas músicas novas, como a música que escrevemos para o disco “Lisboa”, em que participam Rodrigo Leão e o Rui Reininho, mas que não serão necessariamente incluídas no novo álbum.

Mas têm mantido alguma regularidade na produção dos vossos trabalhos.
Podemos demorar um bocadinho mais, ou porque estamos em concertos ou a trabalhar em algum musical, neste caso mais o Nuno. Tenho que admitir que sem ele as coisas não avançam. Fazer um bom trabalho é preciso sentar, pensar, ver o que queremos fazer com algumas músicas, criar um conceito, saber qual a melhor abordagem. Como não temos uma editora a pressionar permite-nos estar mais relaxados para trabalhar.

Como decorre o processo de criação das vossas músicas?
Normalmente é quase sempre o Nuno que surge com uma ideia, com uma melodia simples, passando de seguida para mim, para eu acrescentar a voz e uma letra, outras vezes é ele que faz tudo.

Como é o vosso dia-a-dia?
Muito agitado, pois não somos só artistas, fazemos todo o outro trabalho que está por trás deste mundo, quer de logística, quer técnico, ou mesmo ainda de relações públicas. Somos nós que coordenamos e fazemos a divulgação da banda junto dos organizadores dos festivais, tanto em Portugal, como no estrangeiro. Em relação ao resto da banda, posso admitir que sou a mais privilegiada, porque fico apenas com duas tarefas: dar entrevistas e fazer a gestão do nosso Website.

“Não sou a Madonna nem tenciono ser”

Vocês optaram por uma imagem diferente, um estilo muito próprio.
Quando iniciámos a nossa carreira éramos muito novos e, por esse motivo tentámos vestirmo-nos de forma diferente, de modo a que as pessoas nos respeitassem e nos levassem a sério. Depois, esta estética começou a acompanhar-nos em todos os nossos concertos. Se somos perfeccionistas nas nossas músicas, por que não passar isso também para a imagem?

Mas nesse aspecto a Sónia consegue destacar-se mais….
Gostos de coisas diferentes, principalmente para que as pessoas não identifiquem com algo que já existe. Como sou grande apreciadora das novas tendências e das ideias dos novos criadores de moda, tentei sempre trabalhar com eles. Neste momento estou com os Story Tailors, mas, o Dino Alves é um amigo a quem recorro algumas vezes.

Sente-se uma mulher privilegiada por fazer aquilo que gosta?
Sinto-me feliz e realizada. Apesar de não ser muito católica, agradeço todos os dias a Deus por aquilo que tenho. Mas não me posso esquecer dos meus colegas, foram eles que me permitiram estar no mundo da música. Somos uma verdadeira família.

E os pais, sempre apoiaram?
Eles sempre me apoiaram. O meu pai vai a todos os nossos concertos em Portugal, ele já faz parte da equipa. A minha mãe é diferente, é mais terra a terra, jamais se aventuraria a ir a um concerto connosco.

A vossa “casa” é Alcobaça e nunca se esquecem disso.
Alcobaça é a cidade onde somos mais apreciados. As pessoas conhecem-me desde pequena e os meus amigos mantêm-se os mesmos. E continuam a tratar-nos como sempre fizeram, não de maneira diferente por agora sermos conhecidos.

Em Lisboa, como é o seu contacto com o público?
Surgem situações em que as pessoas me reconhecem e por isso felicitam-me ou pedem-me para autografar CD´s. Encaro isso como algo positivo, mas é algo pontual, estou descansada. Não sou a Madonna nem tenciono ser.

“Sem os Gift não sei se continuaria a cantar”

Como “segura” a exposição da sua vida privada?
Tenho tido sorte, acho que a minha vida, enquanto Sónia Tavares não interessa a ninguém que leia revistas cor-de-rosa. As pessoas conhecem-me, enquanto cantora dos Gift, quanto ao resto, o meu público-alvo não se interessa pela minha vida privada. Isso é muito bom, porque odeio que tirem fotos às escondidas ou façam comentários completamente desajustados.

A música trouxe-lhe muita riqueza?
Não sou rica, mas também não quero ser, pois aquilo que tenho é suficiente para não me privar de nada.

O que faz nos tempos livres?
Adoro séries, chego a casa e devoro episódios. Não perco os do CSI e agora ando a ver os antigos do Hitchcock. E decidi inscrever-me na Academia de Amadores do Chiado, onde vou aprender sapateado!

Alguma vez foi desafiada para cantar a solo?
Não, para já não, mas também não me vejo a fazê-lo, não faz sentido. Espero que continue assim, com os meus três colegas, porque juntos fizemos com que isto tudo acontecesse e fosse possível. Sem os Gift não sei se continuaria a cantar.




Perguntas Rosa10

Qual foi a sua melhor recordação de infância?
O dia em que aprendi a andar de bicicleta com o meu pai.

Qual é a sua essência?
Honestidade.

Qual foi o maior elogio que lhe fizeram?
Foi o vocalista dos Divine Comedy, quando me disse que eu era uma cantora formidável.

Tem algum ídolo ou modelo que a inspire?
Não tenho.

O que pensa do homem e da mulher portuguesa?
Na minha geração, acho que são pessoas com ávida vontade de estar à altura dos outros países europeus.

Qual foi até hoje a sua maior oportunidade?
Uma das maiores oportunidades que os Gift tiveram, mas tivemos de recusar, foi quando o Moby se mostrou interessado em trabalhar connosco. Nós, por uma questão de prioridades e dinheiro – porque tínhamos investido tudo na produção do disco “Film” – tivemos de recusar para promover o nosso trabalho.

Como vê o seu futuro?
Vejo-me com os Gift. Daqui a dez anos, por exemplo, terei 40, e provavelmente só não conseguirei estar aos pulos durante uma hora e meia de concerto (risos)

Se fosse jornalista do Rosa10, quem gostaria de entrevistar e porquê?
Gostaria de entrevistar o David Bowie, nem que fosse só para o conhecer.

Qual é a pergunta que nunca lhe fizeram e que gostava de ter respondido?
Já me perguntaram de tudo.

Entrevista de ANA PEDRO - Fotos ROSA10 e DR - in Rosa10 - 26 Novembro 2007

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