Blog não oficial

10.30.2006

The Gift :: Imprensa

disco lançado hoje
The Gift Difíceis de definir, fáceis de entender


Fácil de Entender é a nova edição dos Gift. Reúne dois CD, um livro, um DVD. Retrato do "presente" da banda, será apresentado a 10 de Novembro, em Sintra

Dois anos depois do duplo AM/FM, os Gift lançam hoje novo disco. Fácil de Entender é o nome da edição e, apesar de ter as canções mais conhecidas, registar dois concertos e ter imagem a acompanhar o som, não é um best-of, não é um álbum ao vivo, não é um DVD. É tudo isso mas nada disso exactamente.
Dois CD e um DVD, apresentados num objecto de encher o olho - discos bem aconchegados num livro ilustrado com letras e fotos. "São as músicas de sempre, com a voz da Sónia [Tavares], tudo o resto mudou", explica Nuno Gonçalves, o compositor do grupo. "Todas as canções foram recriadas de raiz. É o som dos Gift em 2006. E como era nossa intenção", continua, "é um objecto ambíguo, difícil de definir mas Fácil de Entender". A primeira apresentação ao vivo está marcada para 10 de Novembro, no Centro Cultural Olga Cadaval, em Sintra.
A génese da nova edição encontra-se em dois concertos que, em Abril deste ano, puseram os Gift frente a um público seleccionado num estúdio em Loures. A ideia era transportar a dicotomia de AM/FM - AM melancólico e intimista, FM ritmado e eufórico - para o ambiente do concerto, fazendo com que a própria cenografia de palco reflectisse a diferença de estética e ambiência. No DVD vemos, no primeiro dia, uma banda acompanhada de coro, secção de cordas, metais ou harpa a baixar as rotações da música e a desvendar-lhe aquilo que tem de mais outonal, mais majestoso. É o público, sentado em redor, na relva e entre as árvores - oásis no frio do estúdio -, a ser acolhido na "casa dos Gift".
No segundo dia, muda o conceito, muda a casa e a rotação das canções. Há néons e ecrãs faiscando intensamente, vê-se o público em pé, dançando, e os Gift abandonando o formalismo da noite anterior. É a noite pop, mais eléctrica e mais electrónica. Segundo Nuno Gonçalves, Fácil de Entender representa aquilo que sempre foram os Gift, "um confronto entre o sereno e o rude, a discrepância entre a perfeição e a imperfeição". Por outro lado, serve para colmatar algo com que, afirma, têm sido confrontados pelos fãs, "o fosso entre o que somos em palco e ao vivo".

Entre o explosivo e o intimista
"Aqui", assinala, "temos esse carácter mais explosivo do disco e o maior intimismo que o espaço proporciona. É um espectáculo que tanto faz sentido num centro cultural quanto num clube". "É o presente dos Gift", refere uma vez mais. Musicalmente, isso quer dizer a recriação da obra do passado. "O estímulo maior é reinventar o nosso som", diz. E, numa altura em que as plataformas digitais ganham protagonismo na indústria musical, pode ser que assistamos a essa reinvenção em "tempo real". Nuno Gonçalves não esconde que, num futuro próximo, "seria interessante não esperar por um álbum para lançar as canções. Se podemos editá-las em formato digital, não faz sentido dizer às canções que têm de esperar. É quase anti-criativo fazê-lo".
Paralelamente à música ela mesma, Fácil de Entender dirige-nos a outras questões. Por exemplo, o single de apresentação, homónimo, é cantado em português. É certo que se trata da regravação de uma faixa escondida de AM/FM, mas dado o destaque que lhe é agora dado, ressurge a "velha" história da língua. Quanto a isso, Nuno Gonçalves é peremptório: "Por ser um mundo relativamente novo para nós, é estimulante escrever em português, mas não passa de uma opção estética. Fez sentido agora, mas", recorda, "os outros inéditos [Nice and sweet e 645] são em inglês. Nada de novo".
Nada de novo, também, na frente internacional. As digressões recentes nos Estados Unidos ou no Brasil permitiram estabelecer novos contactos e revelá-los a outros públicos, mas para já nada mais que isso. Já em Espanha, Fácil de Entender será um passo importante para a implantação da banda no país. Fruto de várias digressões, "neste momento temos nome e uma base de gente que nos apoia". Não por acaso, à distribuição espanhola de Film sucede-se a edição de Fácil de Entender pela EMI espanhola. Nada de obsessões, contudo. A internacionalização, utopia pop portuguesa de há décadas, não se compadece com tal: "Uma carreira internacional faz-se de pequenos passos", considera Nuno Gonçalves. E acrescenta: "Sempre estivemos com os pés bem assentes em Portugal. Acredito que ainda há gente aqui que não conhece os Gift e é isso que queremos trabalhar. Obsessão? "Obsessão é escrever canções novas e trabalhar na nossa música."

Edição Total
Exagerando, podíamos chamar-lhe "edição total". Fácil de Entender, tendo por base os dois concertos que a banda organizou expressamente para esta edição, divide-se por um DVD com as actuações - acrescidas de making of e documentário da banda em digressão (em destaque a que os levou ao Brasil) - e dois CD áudio com os concertos registados em separado - nos quais se incluem, como extra, as canções Fácil de Entender, Nice and sweet e 645. Como embalagem, um livro cujas páginas registam em foto os espectáculos. Ao todo, cerca de duas horas de canções antigas dos Gift, apresentadas em novos arranjos - lá os vemos acompanhados de um coro, uma secção de cordas e metais e uma harpa -, e uma hora de extras que, além dos documentários, incluem uma versão de Índio, dos Legião Urbana. Para além desta edição, Fácil de Entender está também disponível em versão Essential, com um CD e um DVD.

Mário Lopes
in Público - 2006-10-30

Sem comentários: