Amália foi «pop em todo o seu esplendor», diz Projecto Hoje
O álbum «Amália Hoje», que transforma em canções pop alguns fados conhecidos de Amália Rodrigues, pretende mostrar o «passado tremendo» de «uma artista pop em todo o seu esplendor», disse o autor do projecto, Nuno Gonçalves.
O disco só sairá no final de Abril, mas foi apresentado quarta-feira na íntegra, no Centro Cultural de Belém (CCB), em Lisboa, numa sessão que contou com a participação dos músicos que integram o grupo Hoje, criado propositadamente para este projecto: Nuno Gonçalves e Sónia Tavares, dos The Gift, Fernando Ribeiro, dos Moonspell, e Paulo Praça, dos Plaza.
Na audição integral do álbum, ficou a saber-se que «Amália Hoje» apresenta nove fados, a maioria com música que Alain Oulman compôs para Amália, com letras de poetas portugueses, como «Abandono» (David-Mourão- Ferreira), «Fado Português» (José Régio), «Gaivota» e «Formiga Bossa Nova», ambos de Alexandre O´Neill. Há ainda «Nome de Rua», de Alain Oulman, com poema de David Mourão-Ferreira, o tema francês «L´Important C´est La Rose», de Gilbert Becaud e que Amália cantou em francês, «Grito», que a fadista escreveu com música de Carlos Gonçalves e, a fechar, «Foi Deus», de Alberto Janes.
Musicalmente, não há praticamente nada que ligue estes temas aos fados que ficaram conhecidos na voz de Amália Rodrigues. Não há guitarras portuguesas, os arranjos assemelham-se à sonoridade dos The Gift, com a presença de orquestrações densas, de intensidade em crescendo e de apontamentos electrónicos a marcarem a cadência rítmica.
Destaque para «Formiga Bossa Nova», que Fernando Ribeiro interpretou num registo melódico que o afasta completamente da imagem de vocalista da banda heavy metal Moonspell. Já «Fado Português» e «Foi Deus», interpretados sobretudo por Sónia Tavares, vivem da forte presença de instrumentos de cordas, com a participação da London Session Orchestra.
Nuno Gonçalves, autor dos arranjos e da direcção musical, explicou que a intenção do projecto era mostrar algo «de novo e de diferente», mostrar Amália «com mais cor do que nunca» e que, como artista internacional, existiu para além do fado. «A nossa missão era sermos fiéis àquilo que achamos serem as nossas influências modernas da estrutura pop/rock, cantar em português e, de alguma forma, não ter medo de desrespeitar a obra e esse é o segredo, ter um pé na tradição e não ter problemas de mudar a cor», explicou.
«Acho que Portugal nunca entendeu bem o que ela foi e se este disco, com a modernidade que transmite, puder fazer isso em 2009 e dez anos depois de ter morrido, acho que já é uma missão cumprida», rematou o músico.
Os três vocalistas dos Hoje referiram que aceitaram participar no projecto com a relutância inicial de quem não sabia interpretar os fados e muito menos entrar no universo de Amália Rodrigues, mas o resultado final demonstrou ser «tradicionalmente moderno», disse Paulo Praça. «Achei sempre que não conseguia, porque o registo da voz da Amália é muito diferente do meu», disse Sónia Tavares, mas, à medida que a cantora entrou no ambiente musical do projecto, encontrou o tom pop que Nuno Gonçalves pretendia e perdeu «o medo de dar voz à senhora dona Amália».
«Amália Hoje» será editado a 27 de Abril pela La Folie, editora criada pelos The Gift, e pela Valentim de Carvalho Multimédia, e poderá ser transposta para o palco, embora não haja qualquer data marcada. «Vai ser inevitável, mais cedo ou mais tarde, levarmos os Hoje para o palco e para a estrada. Não sabemos se isso vai acontecer ou não, mas quando as coisas saem bem necessitam de continuar e a continuação deste projecto, sem dúvida, serão os concertos ao vivo«, disse Fernando Ribeiro.
in Diário Digital / Lusa - 02/04/2009
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