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3.13.2011

Imprensa

The Gift: “Nós os quatro funcionamos quase como uma irmandade”

O grupo The Gift apresenta dias 17, 18 e 19, no Teatro Tivoli, em Lisboa, o seu novo disco de originais, ‘Explode', o primeiro em sete anos e aquele que abre uma nova era na carreira da banda.

- Os The Gift voltam aos discos sete anos depois. Estavam muito ansiosos?
Sónia Tavares- Acho que sim, que havia alguma ansiedade. A prova é que assim que nos foi possível parar com tudo e voltarmos a estar juntos, foi o que fizemos.
Nuno Gonçalves - Eu acho que havia mais vontade do que ansiedade.

- Este disco marca uma mudança grande na sonoridade dos The Gift, agora menos orquestrais. Porquê?
ST - Nós sempre tentámos acompanhar os sinais dos tempos. Não fazia sentido os The Gift, em 2011, soarem aos The Gift de 1998, por exemplo. Todos os dias aparecem centenas de bandas novas, e nós não nos podíamos acomodar ao que vínhamos fazendo. Até do ponto de vista pessoal é importante para nós sentirmos que não estamos a ficar para trás e que continuamos a abrir as portas do alternativo.
NG - Era importante para os The Gift não serem uma carta repetida. Uma banda com vinte anos que não se motive a experimentar coisas novas está condenada.

- Sentem que se abre também um novo capítulo na história da banda?
NG - Sim. Podemos dizer que se abriu uma nova era na carreira dos The Gift.
ST - Sem dúvida, até porque fizemos agora coisas que nunca tínhamos feito antes, como trabalharmos pela primeira vez com um produtor ou irmos para fora para compor.

- O que é que sentem que o produtor Ken Nelson, que já trabalhou com Gomez, Kings of Convenience e Coldplay, trouxe à sonoridade dos The Gift?
ST - Acho que trouxe maturidade e clarividência. Um artista acha que a sua obra nunca está acabada. Falta sempre alguém para dizer: "Ok, não mexas mais." E o Ken, com a sua experiência, trouxe-nos um pouco isso. E depois conseguiu tirar um som soberbo. Numa simples sala em Madrid, parece que gravámos num estúdio profissional.
NG - O Ken foi uma pessoa que conseguiu entender o que queríamos. Não impôs nada e deu-nos toda a liberdade. Só assim é que faz sentido.

- Porque é que decidiram ir trabalhar para Madrid?
NG - Primeiro porque eu moro em Madrid e porque como tinha sido pai em Setembro achei que devia estar perto da minha filha naquela altura. E em segundo porque queríamos muito um lugar com todas as condições, onde pudéssemos estar concentrados na música sem olhar para o relógio. A intensidade que conseguimos dar ao trabalho foi muito importante para este disco.
ST - Nós temos o nosso estúdio em Alcobaça, mas precisávamos de concentração. Em Alcobaça há sempre alguém que aparece a convidar para almoçar, há sempre vontade de ir ver o futebol ou visitar os pais que moram no andar de cima (risos). E para este disco era preciso estar apenas focado no trabalho.

- Como é possível manter amizade no trabalho ao longo de quatro meses a viver juntos?
NG - É simples: antes de serem uma banda, os The Gift já eram amigos. E esse é o grande alicerce. Eu conheço o Miguel desde os meus seis anos e desde o meu primeiro treino de hóquei, conheço a Sónia desde os cinco, quando estávamos a fazer um teatro para a escola, e o meu irmão desde que nasci (risos). E, por isso, funcionamos quase como uma irmandade.
ST - Os The Gift estão acima de tudo e de qualquer problema. Claro que somos quatro pessoas diferentes que às vezes têm opiniões contrárias, mas quando nos juntamos sentimo-nos muito fortes. Acho que individualmente não somos assim grande coisa (risos), mas quando nos juntamos temos mesmo muita força.

- Este novo ‘Explode' fala do quê?
NG - O ‘Explode' foi combinado há dois anos e a ideia era transmitir uma explosão de cores, de rasgo, de força e até de inocência. Daí as imagens que fizemos na Índia, onde as pessoas que vivem em condições de vida precárias se divertem como garotos de seis anos. É essa visão de vida que, de certa forma, queríamos passar neste disco.
ST - Há comentários dos fãs no Facebook que nos dizem que estas músicas dão vontade de viver. E é isto.

- E como é que será o novo espectáculo?
NG - Vai ser um espectáculo arrojado, elegante, com muita cor e surpresas.

- Numa altura em que só ouvimos falar em medidas de austeridade, vocês decidiram lançar o disco no site ao preço que os fãs quiseram dar. Foi uma medida contra a crise?

NG - Não. Foi uma medida para dar prioridade àqueles que são nossos fãs de ouvir o disco em primeira mão antes de chegar às lojas. E, depois, foi uma forma de ultrapassar aquele hiato de tempo entre a conclusão de um disco e o seu lançamento no mercado. O disco estava concluído numa quinta-feira e no domingo começou a ser distribuído para os fãs.

- A resposta a este desafio foi o que estavam à espera?
ST - Sim, sem dúvida. Acho que até superou as nossas expectativas.

- Quantas inscrições tiveram?
NG - Foram quase duas mil em sete dias. Mas confesso que preferia mais ter dez mil não-pagantes do que ter três mil pagantes. O objectivo desta acção era que as pessoas ouvissem.

- O preço médio foi de nove euros. Será que a indústria deveria olhar para este valor e tirar conclusões?
NG - Acho que sim. Nove euros, digital ou fisicamente, é um valor aceitável e razoável. E digo mais: é possível.

Miguel Azevedo
in Vidas - Correio da Manha - 12-03-2011

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