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7.24.2007

The Gift :: Imprensa

MÚSICOS DESAFIAM PODER DE EDITORAS
Indústria anuncia transformações a curto prazo
A música distribuída através de canais inovadores é já um marco de 2007, ano que anuncia a maior queda de vendas de sempre na história da música gravada. Paul McCartney ou Prince servem de exemplo, vendendo música em cafés espalhados pelo mundo ou aproveitando a tiragem de milhões de exemplares de um dos maiores jornais do Reino Unido. Quando as maiores editoras discográficas revêem catálogos e equacionam políticas, os músicos procuram novos caminhos.

Explorar os fenómenos
Os Mesa foram um dos nomes recentemente dispensados pela divisão portuguesa da EMI (juntamente com Sérgio Godinho, Souls of Fire ou Jacinta), que agora depende da EMI Ibérica. João Pedro Coimbra, músico e compositor da banda, descreve um mercado "perdido": "Mesmos os artistas consagrados não são respeitados, como o Sérgio Godinho. É inevitável procurar novas formas para mostrar a música." Sobre o futuro dos Mesa, mostra-se seguro: "Temos os meios necessários para fazer um álbum. E, de qualquer forma, uma multinacional não garante tudo."
João Pedro Coimbra fala-nos do MySpace e da Internet como cartão de apresentação. Ao mesmo tempo, lança rasgados elogios à distribuição digital de música, lembrando que "em Portugal ainda é um mercado por explorar. Abrange realidades distintas, dos álbuns aos toques de telemóvel. As editoras chegam tarde a estes fenómenos mas há quem não espere", avisa.

Faça você mesmo
Há muito que os The Gift se decidiram pela edição dos seus próprios discos. John Gonçalves, um dos elementos do grupo, deixa o alerta: "Este mercado está a desaparecer e desejam-se novas ideias." Recorda que os The Gift procuraram antecipar-se a estas transformações, "controlando todas as etapas da vida de um disco".
A banda continua a acreditar no álbum como objecto de apreço, mas sabe que as novas gerações constroem a sua relação com a música em volta do MP3. "O disco tem que marcar o início de algo mais relevante, os concertos." Com as actuações ao vivo como ponto de partida, John Gonçalves recorda que o percurso deve passar pelo investimento no merchandising e pela venda de discos "no local": "Muitas das bandas que assinam por multinacionais acabam por não vender muitos discos. Podem vender tantos ou mais, com menos dependência de uma estrutura tão forte, à porta dos concertos e a um preço bem mais reduzido."
O músico recorda ainda que "os The Gift foram inovadores em Portugal quando começaram a gravar os concertos e a vendê-los após o seu final". Lembra que a Internet é o meio "mais imediato e fácil" para vender música, mas existem métodos por explorar. "E porque não vender discos através de quiosques, dos milhares espalhados pelo país? É uma questão de estudar possibilidades."


LONGA VIDA AOS DISCOS DE VINIL

Clássico. Apesar de se tratar de um formato dado como morto, é peça cada vez mais procurada
Com o CD em declínio contínuo nas vendas de música, o vinil é o suporte que tem ganho crescente destaque. Muitos são os artistas que decidem editar primeiro em vinil, ou até utilizando apenas esse meio, esquecendo por completo o disco de laser.
Reflexo óbvio desta política é a cada vez maior preocupação das lojas de discos em manter, actualizar e tornar cada vez maiores as secções destinadas ao vinil. Isto nas lojas de discos usados e de coleccionadores, naturalmente mais vocacionadas para este tipo de edições, mas também nas grandes cadeias, como a Fnac ou a Virgin, que se mostram preocupadas em explorar um segmento de mercado que, aparentemente, não mostra sinais de fraqueza.
No ano passado, 80% dos singles dos Raconteurs vendidos no Reino Unido correspondiam a discos de vinil. Mas as contas abrangem também os LP, com nomes como os Arctic Monkeys ou os White Stripes entre os mais agradecidos ao formato. Entre nós, e mais recentemente, os Dead Combo lançaram uma edição limitada do seu novo registo, Guitars From Nothing, apenas em vinil.
Certo é que esta é uma realidade notada sobretudo no universo independente e alternativo, mas comprova que, afinal, o vinil não morreu.

A REVOLUÇÃO TRANSMITIDA ATRAVÉS DA INTERNET
'Online'. O serviço My Space transformou-se na mais importante montra de nova música
É um dos agentes responsáveis por uma das maiores revoluções no seio da indústria discográfica. A ferramenta que contribui decisivamente para despertar um sentido "faça você mesmo" através da Internet. O MySpace (em www.myspace.com) é constantemente referido quando o assunto envolve as palavras "música" e "online" e assim deverá permanecer nos próximos tempos.
Começou como uma das muitas redes sociais da Internet, onde cada utilizador cria a sua página e aí partilha o que bem entender com quem esteja interessado. Entre os registados surgiram músicos e bandas que viram no MySpace uma extraordinária janela através da qual a divulgação da sua obra se faria de forma bem mais simples.
Clap Your Hands Say Yeah e os Arctic Monkeys tornaram-se símbolos dessa nova vontade, colocando canções online, à distância de um simples clique. Rapidamente os concertos de bandas como estas estavam repletos, com fãs que entoavam refrões ainda sem terem editado discos. Estava instalada a revolução.
O MySpace criaria um canal especialmente dedicado a este tipo de utilizadores, o MySpace Music, que hoje tem convidados especiais para elaborar playlists e pequenos programas ao estilo radiofónico - a mais recente estrela a participar no processo foi Ozzy Osbourne.

As receitas publicitárias do My Space são cada vez maiores. A música é de tal forma alimento para o serviço que em breve será possível adquirir canções através daquele espaço. A EMI, por exemplo, já chegou a acordo com o MySpace para que os seus artistas possam vender música através daquela plataforma. A próxima etapa do MySpace é a criação de um serviço semelhante ao YouTube, com vídeos online.

O TELEMÓVEL COMO PLATAFORMA LUCRATIVA
Vendas. Os downloads de realtones têm cada vez mais peso nas receitas das editoras
Com o suporte físico em queda, é o download de ficheiros da Internet que vai marcando pontos. Através das lojas digitais (da iTunes à OD2), com os leitores de MP3 portáteis como al- vo preferencial, mas também atra- vés do meio que mais relevância tem ganho nos últimos tempos: o telemóvel.
Com o aparecimento dos sons polifónicos, há alguns anos, o interesse pelos toques telefónicos aumentou exponecialmente. Com as inovações técnicas a surgir nos aparelhos, os toques polifónicos transformaram-se em toques reais, os realtones ou truetones. Música em formatos tão populares como o MP3 ou o AAC, armazenada na memória dos telefones (cada vez maior), que é também utilizada para assinalar uma chamada ou uma mensagem escrita. Se em alguns mercados permanecem dúvidas quanto à inclusão destes downloads nas listas de vendas, a verdae é que as editoras confiam cada vez mais nos realtones na hora de prever lucros. Para a Warner Music, por exemplo, esta fatia de mercado representou mais de 35 milhões de euros de lucro em 2006.

TIAGO PEREIRA
in Diario de Noticias - 23/07/04

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