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1.23.2008

The Gift :: Imprensa

Três noites de festa em Madrid reforçam o sucesso dos The Gift

O êxito do grupo em Espanha obrigou a um concerto extra
O rapaz na primeira fila estremecia o corpo e erguia os braços. Sabia as letras, saltava, estava feliz, e atrás dele toda uma sala se levantava das cadeiras, ocupava o corredor, aproximava--se dos The Gift que, no palco, eram muito mais que executores de música - eram parte da mesma festa. Não se tratava de um concerto, era uma dessas noites que poderia durar toda a noite. Mais tarde, o rapaz, que vive nos Pirenéus e desceu o país para vir ao concerto, diria com o orgulho de quem descobriu algo precioso: "Vi-os pela primeira vez em 1998, éramos 20 pessoas numa sala." Em Madrid, quase dez anos depois, os The Gift esgotaram duas noites no Teatro do Circulo de Bellas Artes, com cerca de 500 lugares, e tiveram de fazer um espectáculo extra, na noite de sábado.

Numa entrevista a um jornal espanhol, Nuno Gonçalves afirmou que preferia tocar para 30 pessoas novas, que para 300 que já o conhecessem. Esse carácter temerário nota-se no percurso internacional da banda, que em 2007 fez mais de 50 concertos fora de fronteiras, em cidades como Nova Iorque ou Londres. Quando se está numa sala de concertos, esgotada, em Madrid, e se percebe como as pessoas, sejam espanhóis ou franceses, reconhecem os primeiros acordes de um tema, reagindo fisica e emocionalmente, faz pouco sentido o debate: cantar em português ou inglês? No caso que seja esta a autêntica internacionalização - tocar as pessoas ultrapassando as limitações de idioma ou de uma nacionalidade -, então os The Gift podem dar a volta ao mundo.

Os três concertos na capital espanhola têm como base o último disco, Fácil de Entender. Seguindo o conceito do álbum, o espectáculo tem uma primeira parte com temas mais tranquilos, que funcionam no espaço de um teatro como fucionariam num clandestino bar de jazz. Os elementos masculinos da banda apresentam-se de roupa negra. Sónia Tavares tem uma pluma no cabelo e, preso na elegância do vestido, um coração de filigranas negras. No final da primeira música, os músicos, de pé, ficam em contra-luz, e passam a ser estilizadas silhuetas negras, como numa banda desenhada de Frank Miller. O concerto tem um intervalo. No regresso, começa a festa. Os The Gift reaparecem com outra roupa, tudo é mais luminoso e agitado, como se numa festa privada entre o público e a banda.

Por tudo isto, uma das espectadoras, Maria, brasileira, comenta que o espectáculo é conceptual - uma palavra bastante atribuída ao grupo. Maria tem razão, mas a forma como ela mesma dança, sensual, revela que os The Gift são mais do que um conceito. Isso e a forma como Sónia Tavares interpreta a excelência das composições musicais. É algo mais que técnica. Por vezes, mostra-se física, dura, e depois delicada, tocando um piano miniatura cor-de-rosa; ou suavemente provocante, como se fosse a personagem feminina de um policial noir.

No final de tudo, Nuno e John Gonçalves não precisavam de falar para dizer que tudo tinha corrido bem. Ouviam elogios e falavam da caravana ao próximo Europeu de futebol. Os irmãos discutiam futebol com Zé Diogo Quintela, dos Gato Fedorento, que viajara de Lisboa para o concerto. O futebol e a música. Os preconceituosos talvez duvidem desta coexistência mas, para Nuno, música e futebol têm algo em comum - a intensidade que parece pôr em tudo o que faz.

Nas noites de fim-de-semana, a capital espanhola é uma enorme cidade, com demasiadas pessoas na rua, para que possa ser conquistada. Mas naquele teatro, cheio de espanhóis de bra- ços ao alto, os The Gift assombraram aquela que diz ser a capital europeia da festa.

HUGO GONÇALVES, Madrid - Diario de Noticias - 20 de Janeiro de 2008

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