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2.09.2008

The Gift :: Imprensa

Caminho das Estrelas: Sónia Tavares
O meu pai vê todos os meus concertos

Sónia Tavares, a vocalista dos The Gift recorda a infância em Alcobaça e fala da carreira do grupo.

Vi um comentário que dizia que a sua voz parece a do Tim Booth. Gosta da sua voz?
A cantar sim mas a falar não. Pareço aquela actriz da série ‘Nany’ que dizia “Hello, Mr.Sheffield’ (risos).

Tem preocupação em trabalhar a voz para que lhe soe de forma diferente?
Não. Durante algum tempo tive algumas aulas de técnica e respiração mas nunca fiz trabalho para a modificar.

Disse uma vez que não tem cuidados. Nunca ficou afónica num concerto?
Não. O que acontece às vezes a meio dos concertos, porque estou cansada ou porque há muito fumo, é pedir ao Nuno (mentor e instrumentista da banda) que tire uma ou duas músicas porque já não aguento mais.

Tem sido difícil fazer a vida quase permanentemente com três homens?
Não, porque nos conhecemos muito bem. Eles já sabem como me pôr chateada ou a sorrir. O que às vezes acontece é sentir-me sozinha, não por estar entre homens mas porque quando acaba um concerto eles podem ir sair e eu não porque no dia seguinte temos novo espectáculo. Em Nova Iorque quase chorei porque tive que ir para o hotel.

Numa banda mista não há o risco de os sentimentos se misturarem?
Acredito que sim mas no nosso caso não, até porque quando começámos éramos muito miúdos. Crescemos juntos e cada um teve sempre espaço para ter os seus namorados e as suas vidas. Ainda hoje a minha vida privada não se mistura com os Gift. Sempre nos vimos como uma família e prezamos isso. A mãe do John e do Nuno considera-me a irmãzinha que eles nunca tiveram.

E tem sido fácil manter a amizade no trabalho?
Sim, porque eles são todos boas pessoas.

Mas nunca se zangaram?
Já (risos) mas cinco minutos depois volta a estar tudo bem. Não há rancores quando se tem um objectivo em comum.

Cresceu em Alcobaça. Que memórias guarda da infância?
Foi um bocado solitária porque não tenho irmãos. Tinha apenas uma prima que de vez em quando ia brincar comigo. Onde me divertia mais era na escola.

Disse uma vez que em Alcobaça os jovens ou formam uma banda, ou se dedicam ao desporto, ou caem nas drogas. A sua relação com a música é conhecida. Como foi a sua relação com o desporto e com as drogas?
Não tive e por isso me dediquei à música (risos). Eu disse aquilo de forma metafórica. Há quem não escolha a droga, a música ou o desporto e viva feliz na mesma. Mas Alcobaça, de facto, tinha muito pouco para oferecer. Havia a banda filarmónica, onde podíamos aprender música, havia um clube de natação, ténis e hóquei, e depois havia cinema sábado à noite ou domingo à tarde, mas que só passava filmes dois meses depois de terem sido exibidos em Lisboa. As companhias de dança iam lá uma vez por ano e pronto.

E porque é que vos deu para a música?
Precisamente por haver pouca oferta, acho que nos agarrávamos mais às coisas. Se havia um concerto de dois em dois meses nós lá íamos ver, fosse do que fosse. Fomo-nos agarrando muito à vontade de ter uma banda, embora eu tenha caído um bocado de pára-quedas.

Como foi?
Foi o Miguel, que era o meu companheiro de tetris, que um dia me levou aos ensaios de uma banda da qual já fazia parte o Nuno, que, por sua vez, andava à procura de algo diferente e de alguém para cantar. Nesse dia, o Nuno virou-se para mim e disse-me: ‘E que tal tu?!”. E lá fui muito a medo. Foi assim que começou.

Foi fácil dar a volta a esse receio?
Sim, foi só começar. O mais engraçado é que eu não sabia sequer que conseguia construir letras ou melodias e fui eu que escrevi a nossa primeira música.

Como é que os seus pais vivem a sua carreira?
Desde o início estiveram sempre comigo. O meu pai vai a todos os meus concertos. Pega no seu carro e vai e vem sozinho, seja em Faro ou em Bragança.

E é muito crítico?
Só quando as coisas correm bem.

E houve algum concerto que vos tivesse corrido mal?
Lembro-me de um concerto na Nazaré em que o gerador era o motor de uma traineira que foi abaixo umas cem vezes. Há também um concerto, que demos na Festa do ‘Avante!’, em que ficámos sem som perante milhares de pessoas e tivemos que acabar o concerto a cantar com palminhas. Mas talvez a noite mais estranha que tivemos até hoje foi um concerto que demos no interior do Alentejo em que as pessoas saíram todas à rua com os seus fatos de lantejoulas.

Diz que é uma pessoa bem humorada. O que é que a tira do sério?
Teimar com o Nuno tira-me do sério (risos) mas pior é chegar a um hotel em Espanha e perceber que a casa de banho dá para todos os quartos. Não dormir tira-me do sério.

Diz que não tem caprichos. Todos temos. Pense lá bem?
(risos) Não sei!... O meu único capricho talvez seja dormir. Eu preciso de dormir senão não consigo cantar. Dêem-me uma cama. Quando chego a um hotel eu digo logo: “Não quero vista. Quero um quarto no fundo do corredor, pode ser o pior, mas aonde não vão as senhoras da limpeza, essas assassinas de aspirador.” (risos).

Chegou a estudar Antropologia?
Sim, mas fiquei pelo último ano.

Hoje seria antropóloga?
Não sei. Não penso nisso. Penso, sim, no que vou fazer quando isto tudo acabar.

E o que será?
Não sei (risos). Eu acho que não sei fazer mais nada. Estive há pouco tempo a dar voz para desenhos animados mas não posso vir a fazer disso vida.

"NUNCA QUIS SEGUIR A SOLO"
Considerada uma das melhores vozes nacionais, Sónia Tavares garante que nunca pensou seguir a solo. “Isso nunca me passou pela cabeça. Não quero seguir sozinha. É o Nuno que faz as músicas que eu gosto de cantar, é o John que direcciona as coisas para que tudo dê certo e é o Miguel que me conta piadas quando estou mal humorada.”

ÁLBUM DE MEMÓRIAS
Nascida a 11 de Março de 1977, na Nazaré, “porque em Alcobaça não havia maternidade”, Sónia Tavares entrou para os The Gift em 1994. O seu grande sonho é conhecer o Egipto.

in Vidas - Correio da Manha - 09/02/2008

1 comentário:

Anónimo disse...

Eu acho que sei onde foi esse concerto no interior do Alentejo. Estive lá, sou de lá. Foi numa vila chamada.. Mora !?