
De pé, a maior parte apenas lobrigando o que se passava no palco, os fãs ligaram-se pelo fio do som. Logo na segunda música cantavam em uníssono com Sónia Tavares; sem necessidade de artifícios cénicos, as coisas correm ao sabor das músicas. Talvez por instinto - deduz-se pela surpresa de Sónia à pergunta no final do concerto - a imagem angélica da vocalista, criada pela camisa branca com folhos, projectava-se no palco como se quisesse criar um retábulo. "Não foi pensado!", respondia Nuno Gonçalves, explicando: "Quise- mos valer pela música, 60% das luzes estavam fora do palco e em termos de estética, está já sincronizada." Sónia socorre-se do número de concertos, "já são 300", para responder à sincronia que se pode detectar. "E rodeamo-nos dos melhores profissionais", remata.
Na noite de sábado estavam literalmente em casa e a banda sabia que ia ser assim. "Temos que piscar o olho às pessoas que estão há muito connosco", explicava Nuno, dizendo que, por isso, "preparámos um alinhamento especial com músicas que já não tocávamos há muito tempo e dificilmente fazíamos fora de Alcobaça".
Banda e fãs, todos perceberam a opção. O tom geral à saída era de quem recebeu aquilo a que havia adquirido à entrada: duas horas de música que já conhecia, até tem nos discos lá em casa, mas que pretendia ouvir ao vivo, num espaço inesperado.
Para lá chegar, o caminho é labiríntico - sem surpresas num edifício com mais de oito séculos. Imprevisto só se fosse o som, mas era esse o interesse das centenas de pessoas que seguiam como se avançassem por um trilho que os levava a um lugar de culto que rapidamente queriam alcançar. Juntaram-se num espaço por onde circularam, ao longo de décadas, os mendigos que o regime de Salazar arrancou das ruas de Lisboa para esconder a pobreza nacional.
Ontem, a banda retomava os concertos em Espanha, com espectáculo em Alicante. Mas vai ficar por lá mais uns meses e, em Julho, no dia 6, actua em Bilbau - "quase como cabeça de cartaz", orgulha-se Nuno, num festival para 60 mil pessoas.
JACINTA ROMÃO
in Diario de Noticias - 10/03/2008
1 comentário:
e que concerto!!! um dos melhores deles q ja tive o maior prazer de assistir! eh eh
Enviar um comentário