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11.20.2006

The Gift :: Imprensa

Nos bastidores com os The Gift
Por trás do palco


Nuno Gonçalves é o primeiro a chegar. Sónia Tavares, a última. A cantora ensaia mas não aquece a voz. “Não tenho tempo” diz. É ali, nos bastidores, entre fios e caixotes, que se esperneia, se discute. E se vivem peripécias e histórias jamais esquecidas. O Correio Êxito revela--lhe esse lado secreto dos The Gift.

Faltava pouco mais de uma hora para o espectáculo dos The Gift no Centro Olga Cadaval, em Sintra, quando John Gonçalves dá conta de que o grupo se esqueceu de ir buscar as meninas do coro à Gulbenkian. “E agora? É impossível ir a Lisboa e voltar pelo IC19 em menos de uma hora!” O episódio, que deixou todos em polvorosa, acabou por ter final feliz graças a um telefonema para uma central de Táxis em Lisboa. O coro chegou a Sintra 15 minutos antes do concerto.

Quando o pano sobe e a vocalista Sónia Tavares surge vestida de branco toda a banda começa a descomprimir. Para trás ficam quase 12 horas de ensaios, durante as quais se experimenta, se corrigem pormenores e se lembram histórias. Como aquela do dia em John Gonçalves emprestou um par de sapatos a um fã que tinha sido impedido de entrar no Casino por estar de chinelos.

O primeiro a chegar aos ensaios é Nuno Gonçalves. O espectáculo está agendado para as dez da noite mas o músico sobe ao palco logo às nove da manhã. “Quase sempre é assim”, revela o irmão, John Gonçalves. A última a ‘marcar o ponto’ é, por seu turno, Sónia Tavares. Considerada uma das grandes vozes nacionais, desengane-se quem julga que a cantora cumpre a rigor todos os preceitos. Diz ela que nunca aquece a voz antes de subir ao palco. “Não tenho tempo. Espero que a minha professora de canto não venha a saber disto”. Certo, certo, é que à hora do espectáculo Sónia já não levará vestidos os jeans, as sabrinas de pele de leopardo e a blusa às bolinhas com que aparece no ensaio.

PROVA DE GINCANA
Caixas e mais caixas, cabos, fios, ligações, tripés, etc. Circular nos bastidores de um espectáculo dos The Gift é quase uma prova de gincana. É naquele ambiente que a banda esperneia, grita e discute, sempre com a máxima de que nada poderá falhar no momento da verdade. Só por aquela altura os erros são permitidos e as falhas fazem sentido. O engano é amigo da perfeição e permite apurar o espectáculo.

António Brulim, saxofonista, passeia-se pelos bastidores. Há sete anos que toca com os The Gift. A história é curiosa. “Fui contratado para substituir o saxofonista que vinha substituir o saxofonista deles”, explica. “O Nuno contactou-me, disse que precisava de mim mas não tinha dinheiro para me pagar. Gostei tanto da sinceridade que aceitei”. Até hoje.

A controlar as luzes está Angel Luan, um espanhol que o grupo conheceu em Madrid, presença assídua em todos os espectáculos, nem que para isso tenha de fazer um vai-e-vém constante entre Portugal e a capital espanhola.

NERVOSISMO AUMENTA
Os temas do novo espectáculo são os mesmos do passado, mas com roupagens actualizadas. Por isso, durante os ensaios o nervosismo faz-se notar. “No arranque de uma digressão é sempre assim. É preciso rever tudo o que foi feito, uma espécie de ‘copy paste’”, comenta John Gonçalves.

Esses momentos não são ciência exacta ou garante de que tudo sairá perfeito. Os imprevistos vêm de onde menos se espera. “Uma vez, num ensaio, o John passou o tempo a brincar com os teclados e a experimentar sons. Quando o espectáculo começou e ele tocou as primeiras notas saiu um ‘Quá, quá, quá!’”, conta Sónia Tavares antes de avançar para outra peripécia: “O ano passado, em Arcos de Valdevez, o John teve uma dor de barriga tão grande que teve de abandonar o espectáculo a meio de uma música e só voltou a meio da seguinte”, confidencia a vocalista.

Desta feita correu bem. “Um bom arranque”, sentencia Nuno Gonçalves no final. A noite termina com os fãs. As histórias são inevitáveis. “Uma vez um fã veio ter connosco a dizer que não tinha dinheiro para nos ver. Comprámos-lhe o bilhete. Um tempo depois o valor caíu na conta do John por transferência bancária”, remata Sónia Tavares.

A BRAGUILHA E O ALFINETE
Loucos por futebol e supersticiosos, John e Nuno Gonçalves assistiram a todos os jogos da selecção nacional, no Europeu e no Mundial, com a mesma roupa. “Nunca a lavámos”, garantem. Foram eles que nos estádios na Alemanha estenderam a faixa ‘Greece Where Are You?’ que apareceu vezes sem conta na televisão. Sobre o Mundial na Alemanha havia, no entanto, outra história para contar; a do alfinete de dama. “No jogo contra Angola a minha braguilha estragou-se. Tive de pedir a uma amiga que me mandasse de Portugal um alfinete de dama. Coloquei-o na partida contra o Irão e ganhámos. Mas no jogo com a Holanda não me queriam deixar entrar no estádio com um alfinete”. Fiz um choradinho, entrei e ganhámos. “Nunca mais vou largar o alfinete”, sublinha Nuno Gonçalves.

UMA MÁQUINA QUE ENVOLVE 30 PESSOAS
Com uma comitiva de mais de 30 elementos, os The Gift mostram-se uma máquina de luz e som. Actualmente são a única banda na estrada a carregar consigo uma parede de leds (luzes) com cerca de 3 metros por 8. Neste espectáculo, o grupo monta uma casa estilizada servindo-se de enormes paredes brancas e espelhos emoldurados, numa produção grandiosa. A banda conta na bateria com Mário Barreiros, um dos maiores músicos e produtores do País, e com uma das poucas harpistas existentes em Portugal.

BLOCO DE NOTAS
90 MIL DISCOS VENDIDOS

Dos três álbuns lançados até ao momento o grupo já vendeu cerca de 90 mil discos.

SEM NADA A DEVER

Depois de diversos empréstimos bancários para concretizar o sonho, os The Gift garantem que já pagaram tudo. O maior empréstimo aconteceu há cinco anos com ‘Film’ (75 mil euros).

PRÓXIMAS DATAS

O grupo apresenta-se hoje na Figueira da Foz; no dia 25 está em Sta Maria da Feira e encerra a mini-digressão no CCB a 9 de Dezembro.

DESABAFOS

"Os The Gift fazem muitas exigências, mas nunca recusam experimentar coisas novas" - Tiago, técnico de som

"Passamos o tempo a discutir futebol. Eu sou ferrenho do Porto. O John é doido pelo Benfica" - António, saxofonista

"Para os The Gift não há problemas. Se há uma casa eles tocam. Se não há eles constroem-na." - Angel, técnico de luz

Miguel Azevedo
Foto : Sérgio Lemos
in Correio da Manhã - 18/11/2006

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