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11.16.2006

The Gift :: Imprensa

«Os Gift têm sempre necessidade de fazer coisas novas»

Em entrevista ao «barlavento», Sónia Tavares, a carismática vocalista dos «The Gift», descreve as razões que levaram a banda a revisitar alguns dos mais importantes temas dos já 12 anos de carreira «made in Portugal».

Tal como no filme que acompanha o novo álbum, a ideia é fazer com que o público que se desloque à sala farense «entre na casa dos Gift».

barlavento - Foi após terem sido galardoados pela MTV, em 2005, com o prémio Best Portuguese Act, que os Gift sentiram necessidade de preparar um disco retrospectivo?
Sónia Tavares – Nós sentimos sempre necessidade de fazer coisas novas. Tínhamos algumas ideias na cabeça, e uma delas era dar uma roupagem nova às músicas antigas e registá-las não só em cd como em dvd, ao vivo e a cores, abandonando um pouco a ideia de «best of».
Escutando este trabalho, é fácil de entender o que são os Gift ao final de 12 anos de carreira.

b. - Foi por isso fácil redesenhar esses 12 anos num só disco?
ST - Obviamente que fizemos alguma selecção e escolhemos as músicas que mais faziam sentido e que melhor assentaram na ideia que nós tínhamos para o disco. Este novo trabalho vive muito da utilização de instrumentos novos, onde pudemos ensaiar novos caminhos estéticos.

b. - Ficou muita coisa de fora?
ST - Obviamente. Dos três discos que temos, estão aqui apenas algumas canções, mas achamos que o que consta neste álbum é de facto o melhor dos Gift.

b. - Quanto tempo demorou a produção do «Fácil de Entender»?
ST - Começámos a ensaiar no início de Abril, gravámos as duas noites ao vivo em Maio, mas só no final de Outubro o disco chegou às lojas. Demorou quase meio ano a fazer, até porque não é só cantar, e já está! Fazemos questão de acompanhar tudo, desde as provas de cor da capa, até à contratação dos músicos.

b. - Isso revela o espírito persistente que os Gift sempre demonstraram desde o primeiro álbum, quando tudo teve início numa edição de autor…
ST - No fundo queremos que as coisas sejam feitas do melhor modo possível, queremos que nos preencham também a nós enquanto espectadores e ouvintes…. Não queremos que as coisas sejam perfeitas, até porque a perfeição é utópica e, por isso mesmo, dois dias depois do disco estar pronto, foi logo para as lojas. Não gostamos de guardar truques no bolso. Se existe alguma coisa para dizer, devemos dizê-la. Esta foi a melhora altura para lançar o disco, porque, com o passar do tempo, as coisas podem perder o contexto e até ficam desactualizadas.

b. - Com o novo trabalho, chega também o vosso primeiro dvd? A experiência valeu a pena?
ST - Foi trabalhosa. Já tínhamos gravado alguns espectáculos, mas não neste formato, que exigiu muito mais coisas em que pensar. Foi um trabalho complexo, com coisas com que nós não estávamos habituados a lidar. No momento, não sei se fará sentido brevemente ou mais alguma vez repetirmos a dose. Este projecto foi pensado para agora, mas os sinais dos tempos também ditarão as tendências.

b - Lembro-me de a Sónia ter escrito no site dos Gift que, quando tivesse tempo, passaria pelas lojas para ver se o cd ficava bem nas prateleiras? Fica mesmo?
ST - Melhor ficará em casa das pessoas (risos).

b - É um apelo para o disco material, em detrimento dos formatos digitais?
ST - Enquanto compradora de música, cada vez mais valorizo o objecto disco. Gosto de comprar um álbum e de o ver como um livro de fotografias. A pirataria e os formatos digitais acabam com o valor de obra e de colecção, sinais que, no fundo, mostram como realmente as bandas são. Além disso, se as pessoas não comprarem música, as bandas acabam.
Não falo dos grandes grupos como os U2, mas de bandas mais pequenas como os Gift ou outras formações portuguesas, que precisam sempre de público que compre os seus trabalhos.
Eu gosto que me presenteiem, e por isso também nós decidimos presentear as pessoas com uma edição especial mais alargada, que contém um álbum de fotografias, e que reflecte um trabalho de muitos meses.
Os fãs têm consciência disso e creio que foi por isso mesmo que entrámos para o segundo lugar do top nacional.

b - Os Gift já escreveram algumas canções em português, mas têm sido timidamente colocadas em faixas escondidas dos álbuns. Desta vez foi precisamente um single em português a dar nome ao álbum e a ter um acolhimento extraordinário nas rádios. Já tiveram um feedback dessa opção?
ST - O nosso público sabe que nunca fechámos as portas ao português e já no primeiro disco existia uma canção, em português, que se chama «Ouvir». O «Fácil de entender» foi mais uma.
Demos uma roupagem nova a uma música que estava escondida no álbum «AM-FM»: acrescentámos ao piano e à voz – que era assim que ela estava no formato original – violinos, baterias, electrónica e conseguimos transformá-la numa canção forte, com um refrão assumido.
Achámos que ficou tão boa e tão bonita que seria decididamente a cara deste projecto.

b - Significa isso que a língua portuguesa pode ser o próximo passo dos Gift?
ST - (risos) O rumo dos Gift vai sendo traçado a pouco e pouco e, no fundo, nunca fechamos as portas a nada, até porque somos pessoas sempre abertas às novas tendências, aos sons, às canções, às letras e à comunicação em geral. Mas não quer dizer que o caminho seja o português…

b - E os dois novos temas presentes no álbum revelam a evolução musical dos Gift?
ST - Acho que sim! No meu entender são canções fortes, alegres e com uma electrónica, uma vez mais, bastante assumida. No fundo é isso que sempre procurámos fazer: canções. Tenham elas mais ou menos violinos, mais ou menos batidas…

b - O espectáculo que hoje apresentam no Teatro Municipal de Faro vai seguir o alinhamento do disco?
ST - Vamos tentar apresentar com alguma fidelidade aquilo que fizemos no dvd. Vai ser um espectáculo com duas partes distintas: na primeira estarão presentes os músicos convidados, o coro feminino, a harpa e vamos tocar as músicas mais íntimas dos Gift.
Na segunda parte, também à luz do dvd, é o momento em que nos despimos dos músicos convidados e fica apenas a banda a tocar aquelas canções mais arrojadas, aquelas em que as pessoas se levantam e gostam de dançar. É uma parte mais atrevida e extrovertida.

b - É um espectáculo sobretudo pensado para espaços interiores?
ST - Apesar de este projecto ter sido pensado para auditórios, julgo que facilmente se poderá adaptar a um concerto ao vivo para 30 mil pessoas, a um festival, a uma queima das fitas, ou até a uma festa numa cidade.
Temos um leque muito diferente de músicas, o que nos permite uma grande versatilidade. O cenário não será obviamente como o do dvd, mas vamos tentar retratá-lo o mais fielmente possível.

b - A digressão vai ficar associada ao disco homónimo que saiu recentemente? À semelhança do álbum, o espectáculo terá duas facetas e duas partes distintas?
ST - O espectáculo terá o mesmo conceito, embora nós gostemos de variar, até porque há pessoas que nos seguem para todo o lado e, com certeza, vão assistir a alguns destes seis primeiros espectáculos que vão acontecer em auditórios.
Queremos dar-lhes alguma variedade e criar diferenças que possam marcar esses momentos.

filipe antunes
in www.barlavento.online.pt - 16 de Novembro de 2006 | 08:11

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